1 de Outubro – Dia Internacional da Pessoa Idosa | Mensagem da Rede Europeia anti-Pobreza/Portugal


 

1 de Outubro 2021– Dia Internacional da Pessoa Idosa

Mensagem da Rede Europeia anti-Pobreza/Portugal

 

“A idade não condiciona a disponibilidade para o mundo e para a mudança”. Em 2012, Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, Manuel António Pina dizia-nos isto numa entrevista em sua casa[1] em que nos falava do envelhecimento, do seu envelhecimento, e do papel das pessoas idosas e das diferentes gerações na sociedade. Recordar esta frase neste dia em que se celebra o Dia Internacional da Pessoa Idosa (1 de Outubro) pareceu-nos adequado e acertado. Encontramo-nos num momento de viragem, não só porque tentamos enfrentar as consequências da pandemia, mas também porque novos desafios se colocam às sociedades. Desafios inerentes às transições climáticas e digitais de que tanto se tem falado nestes últimos tempos, mas também desafios sociais que são transversais àquelas. Se estamos a viver um período de transição e mudança é importante reforçar o papel que todas as gerações podem ter nesta mudança e, em particular, as pessoas idosas que continuamente são esquecidas pelo papel ativo que podem desempenhar.

Enquanto Rede que tem como missão a luta contra a pobreza e a defesa da dignidade do Ser Humano nas suas múltiplas dimensões, não podemos deixar de nos preocupar pelo aumento das situações de vulnerabilidade das pessoas idosas. A taxa de risco de pobreza aumentou para as pessoas idosas (65+ anos) e é mais grave para o grupo das mulheres idosas. Mesmo do ponto de vista dos agregados familiares, esta taxa também aumentou para os agregados compostos por um adulto com 65+ anos sem crianças. A pobreza continua a ser uma realidade bem presente na vida das pessoas idosas o que nos leva a questionar a eficácia das medidas de política dirigidas a esta população, mas sobretudo a eficácia das medidas dirigidas à população em geral e que as deviam proteger no decurso da sua vida. Mesmo do ponto de vista das famílias, que assumem em primeira instância o cuidado aos seus membros mais velhos, verificamos ainda lacunas do ponto de vista das medidas de política que têm consequências sérias na vida das pessoas idosas e também na vida dos restantes membros familiares. O reconhecimento do Estatuto do cuidador informal foi um passo positivo, mas ainda é insuficiente. Em 2017, numa vasta auscultação nacional a pessoas idosas[2], estas foram categóricas a afirmar que a família é a estrutura central para se envelhecer com qualidade, mas também reconheceram que o cuidado também acarreta dificuldades que precisam de ser acauteladas. A EAPN Portugal já defendeu por várias vezes a importância da definição de uma Política de Família que estabeleça um programa de ação para a família que contemple não só as famílias idosas, mas também as famílias multigeracionais e que contemple apoios financeiros, mas também psicológicos, uma melhor (e verdadeira) conciliação entre a vida privada, familiar e profissional e potencie a solidariedade entre as gerações e os afetos também no seio familiar.

A criação de mais e a melhores serviços de apoio às pessoas idosas no domicílio merece também a nossa preocupação. Serviços como o SAD (Serviço de Apoio Domiciliário) precisam de ser reforçados do ponto de vista de recursos materiais, mas também humanos. Apoiar as entidades que prestam estes serviços garantindo a sua qualidade e valorizando as pessoas que os prestam é urgente e determinante na promoção do bem-estar das pessoas idosas, nomeadamente, nas que estão em situação de dependência.

A abordagem de defesa dos direitos humanos é central à EAPN Portugal e, como tal, preocupa-nos que o papel que as pessoas idosas têm na sociedade, na sua melhoria e transformação, seja colocado em segundo plano ou que permaneça sendo alvo de estereótipos que reduzem as pessoas idosas a uma condição de fragilidade e passividade. Recentemente no seu discurso sobre o Estado da União, Ursula Von der Leyen exaltou o papel dos jovens no Futuro da Europa, mas foi omissa em realçar o papel que as pessoas idosas também podem ter nesse futuro e sobretudo a importância das diferentes gerações na construção de uma Europa mais forte, atenta às preocupações das pessoas, capaz de reforçar os valores e direitos fundamentais de todos.

Neste momento, documentos como o Plano de ação para o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, o Plano de Recuperação e Resiliência, a nova Estratégia nacional de combate à pobreza que está para ser apresentada, apresentam-se, a nosso ver, como instrumentos capazes de apresentar novas soluções e orientações para promover o bem-estar das pessoas. Há que garantir que os cuidados às pessoas mais velhas sejam também reforçados e se construa uma imagem mais positiva sobre os mesmos e sobre todo o processo de envelhecimento. O novo Quadro Comunitário de financiamento será igualmente uma nova oportunidade para se criarem projetos, iniciativas que visem uma maior e melhor participação das pessoas idosas na comunidade e nos assuntos que lhes dizem diretamente respeito.

Apesar de muito ter sido feito ao nível social, a verdade é que do ponto de vista nacional e europeu continua-se a ser muito pouco eficaz no combate à pobreza e isso é bem visível no número de pessoas que ainda vivem em condições de grande vulnerabilidade, vítimas da injustiça. Neste dia 1 de Outubro não podíamos deixar de apelar à construção de uma sociedade respeitadora de todas as idades. Uma sociedade livre de pobreza e dignificadora dos direitos de todas as pessoas. A cooperação entre todas as idades é fundamental e deve ser promovida e incentivada: precisamos de ”colocar o diálogo no lugar do combate e o respeito no lugar da tolerância. Isso implica a proximidade das gerações” (Adriano Moreira[3])

 

EAPN Portugal

1 de Outubro de 2021



[1] Foram recolhidos um conjunto de testemunhos (entrevistas) de pessoas que, nas mais diversas áreas, e nos diversos âmbitos, quer nacional, quer local, contribuem para a sociedade portuguesa, contribuem para o bem-estar das pessoas com quem interagem e são um exemplo de que a idade não tem limites, mas que pode ser alvo de limitações impostas pela própria sociedade. As entrevistas foram acompanhadas de fotos da autoria de Sérgio Aires e estão reunidas na publicação: Fátima Veiga e Paula Cruz, Ninguém vive demais. Uma vida é um momento, Porto, EAPN Portugal, 2012.

[2] Consultar o relatório Fóruns sobre Envelhecimento Positivo. O que pensam e o que dizem as pessoas idosas sobre o envelhecimento, EAPN Portugal, 2018. https://www.eapn.pt/documento/594/foruns-participativos-sobre-envelhecimento-positivo

[3] Entrevista a Adriano Moreira que integra a publicação Ninguém vive demais. Uma vida é um momento.


Fotografia: pesquisada na internet / direitos de autor não encontrados

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