"Bring some water, I'm burning” - "Alguém me dê água, estou a arder" é a frase que pode ser ouvida num vídeo que circula pelas redes sociais...



 
( Enviamos este email em nome da Refugees Welcome Portugal, pedindo ajuda na divulgação deste artigo acerca do incidente ocorrido na semana passada no qual as autoridades Iranianas incendiaram um carro em que seguiam migrantes afegãos, acabando por tirar a vida a 3 deles. Infelizmente esta não é uma situação isolada e pedimos o vosso apoio para que se saiba o que está a acontecer. No artigo temos uma carta aberta de um jovem refugiado afegão que pede que nos juntemos à sua voz e não o ignoremos. Esperamos contar convosco! )

"Bring some water, I'm burning”

O mundo, a cada dia que passa, torna-se um lugar mais sombrio, injusto e difícil de suportar: o progresso feito ao longo dos séculos, parece ter-se ficado apenas pela tecnologia ao passo que a humanidade se fecha cada vez mais numa realidade atroz, desigual e cruel, onde todos os dias são inventadas novas formas de diminuir o valor da vida humana com base na nacionalidade, cor da pele, estatuto social entre outras formas de discriminação.

Dias depois da trágica morte de George Floyd às mãos da polícia, novos acontecimentos urgem a nossa atenção, solidariedade e, sobretudo, ação. O Afeganistão está há mais de 40 anos em guerra, mas isso não é motivo para banalizarmos as opressões diárias, os assassinatos e as demais violações de direitos humanos que estas pessoas sofrem basicamente desde que nasceram e que, provavelmente, as futuras gerações também sofrerão, se não levantarmos a nossa voz por (e com) eles.

"Alguém me dê água, estou a arder" é a frase que pode ser ouvida num vídeo que circula pelas redes sociais, proferida por um jovem após o carro em que seguia ter sido incendiado pela polícia iraniana na passada quarta-feira, dia 3 de junho. Este incidente surge semanas após as autoridades afegãs acusarem os guardas fronteiriços do Irão de afogar cerca de 45 imigrantes que tentaram entrar no país, torturando-os e obrigando-os a nadar ao longo do rio Harirud de volta ao Afeganistão.

Como se não bastasse estarem a fugir da guerra, os afegãos enfrentam uma longa e perigosa jornada até estarem a salvo: são alvo de racismo, ódio e perseguição não apenas pela população, mas pelas autoridades cujo dever deveria ser proteger vidas e não tirá-las.

Mas engane-se quem pensa que a Europa lhes dá a proteção e a dignidade humana pelas quais tão orgulhosamente ergue a sua bandeira. Relatos assustadores chegam-nos das sua fronteiras externas (quer as marítimas quer as terrestres) onde, mais uma vez a polícia é protagonista: destruição de bens pessoais, roubo, humilhações, espancamentos, são ações perpetradas diariamente nas fronteiras por países que pertencem à União Europeia, escandalosamente com o conhecimento da mesma e sem repercussões ou sanções à vista. Escandalosamente com a apatia de cada um de nós.

A negação do direito de asilo a alguém é ilegal; a expulsão de uma pessoa para o país vizinho sem lhe dar a oportunidade de pedir asilo é ilegal; a violência exercida pela polícia é não só ilegal como desumana e todos os dias acontece sem que haja consequências. Aliás a tendência é para estes atos aumentarem. E, assim, pessoas que buscam por paz, uma vida digna, segurança, acabam por sofrer às mãos de um sistema para o qual não são relevantes e onde a probabilidade de alcançar um porto seguro é, ironicamente, cada vez menor, acabando muitos por morrer ao fugir da morte.

Muitos afegãos passam a sua vida toda sem perceber o porquê de tanta opressão, ódio e falta de empatia pela sua situação e por todas as violações aos Direitos Humanos que sofrem. S. é um deles: um jovem afegão de 16 anos, que vive num campo de refugiados na Bósnia e Herzegovina, na esperança de alcançar a União Europeia. Apesar de tão jovem, não quis deixar de usar a sua voz para condenar o que acontece ao seu povo e pedir às pessoas que não os ignorem e que também juntem as suas vozes por eles. Aqui ficam as suas palavras:

"Olá a todos os que estão a ler estas palavras. Sou um refugiado afegão preso na Bósnia e escrevo esta carta com muita dor no meu coração para que o mundo inteiro saiba que há demasiada opressão em nós refugiados, especialmente em muitos afegãos que foram forçados a deixar a família e o lar em busca de proteção. Fugimos do nosso país e, infelizmente, durante o caminho, somos afogados, baleados, queimados e espancados pela polícia de outros países.

Eu quero lembrar que, por causa de um incidente que aconteceu recentemente, o mundo uniu-se e todas as pessoas protestaram; mas quando os refugiados afegãos no Irão foram queimados vivos pela polícia, ninguém reagiu. Ninguém levantou a sua voz.

Quero perguntar: porque os afegãos não são importantes para ninguém? Onde estão os nossos direitos humanos? Nós também somos como vocês. Queremos viver como os outros seres humanos e queremos que todas as pessoas ao redor do mundo nos apoiem e nos ajudem a evitar estes incidentes: não queremos mais ser oprimidos e mortos assim. Obrigado."

O nosso apelo é que juntes a tua voz à de S. para que ele saiba que não está só, para que ele saiba que o ouvimos e não o ignoramos. Partilhemos o seu testemunho!


Refugees Welcome Portugal e S.  


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