29 de Abril – Dia Europeu da Solidariedade
entre as Gerações
Mensagem da EAPN Portugal
Desde que o
Dia Europeu da Solidariedade entre Gerações foi estabelecido, em 2008, que a
palavra SOLIDARIEDADE não fazia tanto sentido como no presente momento. A COVID
19 está a abalar não só as condições de vida e de saúde das pessoas, com
destaque para as mais vulneráveis e mais idosas, mas também a economia e a
sociedade no geral; como ainda constituiu o risco de abalar fortemente os Direitos Fundamentais.
A Comissária
Europeia, Helena Dalli, referiu que “a igualdade e a não discriminação são
princípios subjacentes à Lei Internacional dos Direitos Humanos e da União
Europeia. Nenhuma crise nos deve fazer abandonar esses valores”, alertando para
o facto de não haver espaço, dentro da União Europeia, para a discriminação
pela idade, salientando, por exemplo, que qualquer decisão médica relativa ao
tratamento deveria estar baseada em orientações
éticas objetivas e não etárias. Desde que por toda a Europa se assumiram
planos de emergência e que o medo do “inimigo invisível” começou a ser notícia,
que as pessoas idosas têm sido alvo constante de preocupação, mas também de
discursos discriminatórios, assentes em preconceitos sobre o envelhecimento.
Assim, a EAPN Portugal, gostaria de assinalar este dia com as seguintes
mensagens:
- Nada nos deve fazer abandonar o respeito por todas as
idades e pela importância que todas as gerações têm na sociedade.
- Todos devemos ajudar a combater o aumento do sentimento de
solidão e isolamento das pessoas idosas. Existiam em Portugal mais de 41
000 idosos a viverem sozinhos e/ou isolados. Neste momento, e com o
encerramento de muitos serviços locais, como os Centros de Dia, poderemos
ter um número bastante superior. A incerteza dos dias e o afastamento das
famílias e amigos, está a provocar nervosismo, ansiedade e sentimentos
depressivos que, a longo prazo, podem ter consequências sérias na vida
destas pessoas e um peso considerável nos serviços, nomeadamente, na saúde.
- Todos devemos estar ainda mais atentos. A pobreza a que
estão sujeitos 17.7% da população com mais de 65 anos alerta-nos também
para as dificuldades que estes indivíduos podem ter no acesso a bens
(alimentares e medicação) e serviços, e com a redução de profissionais e
voluntários no acompanhamento às situações, preocupa-nos, ainda, outras
situações que podem permanecer desconhecidas.
- Temos conhecimento de que na linha da frente, as
Instituições debatem-se com a incapacidade de garantir a segurança e
cuidados adequados aos mais idosos; com a dificuldade no acesso a
equipamento de protecção e com a redução dos recursos humanos e a
sobrecarga (e contínua motivação) das equipas que estão em funcionamento.
Problemas que se estendem também aos serviços de acompanhamento dos idosos
em casa como o Serviço de Apoio Domiciliário.
- É necessária, mais do que nunca, uma boa articulação entre
o sector da saúde e o setor social, pois a falta de recursos financeiros e
humanos, assim como a dificuldade em constituir equipas multidisciplinares
que garantam um acompanhamento global às pessoas idosas contribuem, agora,
também, para a situação dramática que se vive. O desafio que temos em mãos
ultrapassa as fronteiras nacionais e é um desafio Europeu. Se já se
questionava a institucionalização das pessoas idosas, neste momento, temos
de reflectir muito bem que institucionalização deve existir?!
- Devemos, com celeridade, procurar responder à pergunta:
que mudanças queremos e devemos operacionalizar nas instituições para que
o bem-estar das pessoas esteja em
primeiro lugar e para que os profissionais
consigam desempenhar a sua função
com qualidade?
- Se, no imediato, a estratégia passa por “ficar em casa”,
há que reflectir no que isto significa para as pessoas mais vulneráveis e
nas consequências que daqui podem surgir, do ponto de vista mental, mas
também social e económico, quando não estão reunidas as condições
adequadas. Olhando à situação das pessoas idosas, o envelhecer em casa deve
ser repensado do ponto de vista do que é verdadeiramente necessário para
que isto aconteça com qualidade, colocando a “pessoa” no centro da reflexão e intervenção.
- Acreditamos que o futuro passa pelo investimento, não só económico em áreas centrais como as da saúde, mas também no reforço dos serviços públicos, nas mais
diversas áreas e, sobretudo por investir nas pessoas e na promoção da sua
qualidade de vida.
- O momento atual tem trazido, também, respostas positivas
de grande solidariedade que, sempre foram solução para muitos dos desafios
e que agora revelam ainda mais a sua importância, devendo ser reforçadas e
mantidas. O trabalho em rede
(entre instituições locais, municípios e entidades públicas) tem sido uma
resposta crucial para atender às necessidades.
- A responsabilidade
social das Empresas, nomeadamente aquelas que pela sua dimensão têm
conseguido manter-se, tem sido capaz de atender, por exemplo, à procura de
materiais e equipamentos de proteção. O voluntariado, apesar de ter reduzido, tem sido valorizado e
várias respostas têm surgido na comunidade para responder às necessidades
dos que mais precisam. Os mais jovens têm-se destacado na promoção destes
movimentos. Na base de todo este trabalho temos a solidariedade como valor
máximo e esta tem de sair reforçada e não abalada deste período de crise.
- Por último, recordamos a
importância de se definir uma Estratégia Nacional
para a Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social, capaz de promover e
fortalecer os direitos sociais de todos/as; para uma maior cooperação
entre todas as gerações na proteção dos mais vulneráveis; para que haja
uma coordenação de respostas e reforço do trabalho em rede ao nível local
e nacional; para que se valorizem os profissionais, independentemente da
categoria profissional que tenham, que se promovam ações de proximidade às
pessoas e que estas sejam ouvidas face ao que precisam e ao que gostariam
de ver mudado. Uma melhor e maior coesão social só é possível com
todos/as, não deixando ninguém para trás, fortalecendo direitos e criando
melhores condições de vida. Só assim será possível ficarmos “todos/as”
verdadeiramente bem.
Fotografia: Sandra Ventura
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