OBSERVATÓRIO NACIONAL DE LUTA CONTRA A POBREZA, ANALISA DADOS DO ICOR/EU-SILC 2018


Pobreza e exclusão social em portugal

Análise dOs dados do ICOR/EU-SILC 2018
      Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza

Sumário

Em 2017 houve um aumento de rendimentos da população residente em Portugal, com repercussão nos diferentes quintis de rendimento, e levando a que o rendimento mediano registado tenha sido o mais elevado desde o início da aplicação deste inquérito. No entanto, Portugal permanece entre os países da União Europeia com rendimentos medianos mais baixos. Segundo os dados referentes a 2016, era necessário estar entre os 40% mais ricos da população portuguesa para ter um rendimento superior ao rendimento dos 20% mais pobres da União Europeia.
Os dados indicam também uma redução das desigualdades de rendimento no último ano que se verifica nos três indicadores de desigualdade analisados no ICOR / EU-SILC (S90/S10, S80/S20 e Coeficiente de Gini), e apontando para os níveis de desigualdade mais baixos desde 1994. No entanto, a desigualdade continua a ser elevada em Portugal. Cerca de 40% do rendimento equivalente nacional concentrava-se em 20% da população mais rica, enquanto que 20% da população mais pobre tinha apenas cerca de 8% do rendimento equivalente nacional, ou seja, o rendimento de 20% da população mais pobre é 5.2 vezes inferior ao rendimento de 20% mais rica (S80/S20). Se compararmos o rendimento de 10% mais pobre e 10% mais rica este valor sobe para 8.7. Assim, no contexto da União Europeia, Portugal apresenta-se no grupo dos países mais desiguais. Num grupo de 23 Estados-membros para os quais existem dados disponíveis à data de fecho deste relatório, Portugal é o 5º país com maior concentração de rendimento equivalente nacional entre os 20% mais ricos e o 8º país com valores mais elevados no indicador S20/S80 e no Coeficiente de Gini.
Com um aumento do rendimento disponível equivalente e uma redução dos níveis de desigualdade, Portugal apresenta uma redução importante da pobreza ou exclusão social que baixou de 23.3% em 2017 para 21.6% em 2018. Tal redução da taxa de risco de pobreza ou exclusão social reflete a evolução que ocorreu em três dimensões: a incidência do risco de pobreza monetária foi de 17.3% em 2017 (-1 pp do que em 2016); a intensidade laboral muito reduzida foi de 7.2% em 2017 (-0.8 pp face à 2016); a privação material severa atingiu 6% da população em 2018 (menos 0.9 pp do que em 2017). Esta evolução claramente positiva para o combate à pobreza em Portugal não parece alterar significativamente a posição de Portugal no contexto da União Europeia que permanece com uma taxa de risco de pobreza e uma taxa de privação material severa acima da média estimada para a UE (16.9% e 5.8% respetivamente). Fica abaixo da média europeia na proporção de pessoas que vivem em agregados com intensidade laboral muito reduzida (9%), tal como tem vindo a ocorrer desde 2015.  Relativamente ao risco de pobreza ou exclusão social, Portugal posiciona-se em 2018 abaixo da média da União Europeia, no entanto, a diferença é de apenas 0.1 pp.
Da mesma forma, a atual redução dos indicadores de pobreza ou exclusão social, apesar de ocorrer de forma transversal, abrangendo a maior parte dos grupos analisados, não altera significativamente os grupos mais vulneráveis a estes fenómenos:
·         As mulheres têm um maior risco de pobreza ou exclusão social e de pobreza monetária relativamente aos homens. Apesar dos últimos dados apontarem para uma menor intensidade laboral muito reduzida e menor privação material das mulheres, será necessário conhecer os resultados dos próximos anos para perceber se é uma inversão de uma tendência ou se é apenas uma alteração esporádica sem impacto na análise da evolução temporal destes dados.
·         As crianças apresentam-se como o grupo com maior vulnerabilidade à pobreza ou exclusão social e à pobreza monetária, situação recorrente desde 2007 (risco de pobreza) e 2008 (risco de pobreza ou exclusão social). Em 2018, 21.9% das crianças e jovens com menos de 18 anos estavam em situação de pobreza ou exclusão social e 19% estavam em risco de pobreza monetária. Na intensidade laboral muito reduzida, por outro lado, destaca-se uma população adulta até aos 60 anos (7.7%), sendo que este indicador apenas tem em conta a população dos 0 aos 59 anos. Em termos de privação material severa, por outro lado, é a população com 65 anos ou mais que apresenta, em 2018, uma proporção mais elevada (6.2%). Os resultados do ICOR / EU-SILC 2018 apontam para um aumento da vulnerabilidade dos mais velhos, sendo o único grupo etário que sofre um aumento da proporção de pessoas em situação de pobreza ou exclusão social e de pobreza monetária face ao inquérito de 2017.
·         Importa também sublinhar a forte vulnerabilidade da população entre os 15 e os 24 anos que se encontra oculta pela apresentação de dados através de grandes grupos etários. Para estes pequenos grupos etários a vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social assume proporções muito muito superiores à média nacional: o risco de pobreza ou exclusão social é de 30.3% na população dos 15 aos 19 anos e de 25.8% na população dos 18 aos 24 anos; o risco de pobreza monetária é de 25.5% para os jovens dos 15 aos 19 anos e de  21.3% para os jovens dos 18 aos 24 anos; a privação material severa é de 7.5% para os jovens dos 15 aos 19 anos e 7.4% para os jovens dos 18 aos 24 anos. Apenas na intensidade laboral muito reduzida encontramos um grupo etário com uma taxa mais elevada à dos jovens. Em 2017, 16.7% dos adultos dos 55 aos 59 anos viviam em agregados com intensidade laboral muito reduzida. O segundo grupo com maior proporção de intensidade laboral muito reduzida era dos jovens dos 15 aos 19 anos (7.9%).
·         Com uma elevada taxa de pobreza ou exclusão social das crianças e dos jovens até aos 24 anos, compreende-se a vulnerabilidade dos agregados com crianças dependentes. Contudo, esta maior vulnerabilidade dos agregados com crianças dependentes ocorre especificamente no indicador da pobreza monetária, uma vez que nos restantes indicadores os agregados sem crianças dependentes apresentam taxas mais elevadas. No global destacam-se três tipologias de agregados com forte vulnerabilidade nos vários indicadores: os agregados com dois adultos e três ou mais crianças dependentes têm a maior taxa de risco de pobreza (31.6%) e de privação material severa (10.9%), a segunda maior taxa de risco de pobreza ou exclusão social (33.3%) e uma taxa de intensidade laboral muito reduzida superior a média nacional (7.7%); as famílias compostas por um adulto com crianças dependentes têm a maior taxa de pobreza ou exclusão social (36%) e a segunda maior taxa de risco de pobreza (28.3%), de intensidade laboral muito reduzida (15%) e de privação material severa (10.3%); e os adultos isolados que têm a maior taxa de intensidade laboral muito reduzida (16.7%) e a terceira maior proporção nos restantes indicadores.
·         A população sem emprego mantém uma forte vulnerabilidade nos diferentes indicadores que compõe a pobreza ou exclusão social, em particular a população desempregada e outros inativos. A população desempregada é o grupo social onde o risco de pobreza ou exclusão social, o risco de pobreza e a privação material severa atingem os valores mais elevados (58.4%, 45.7% e 16.2% respetivamente), havendo simultaneamente um agravamento do risco de pobreza e da intensidade laboral muito reduzida face ao ano anterior.
·         A taxa de trabalhadores pobres foi de 9.7%, sendo que 12.1% encontra-se em situação de pobreza ou exclusão social. Dentro dos trabalhadores destaca-se a vulnerabilidade dos que trabalham por conta própria: 25.7% esta em risco de pobreza e 26.5% está em risco de pobreza ou exclusão social.
·         A população com baixos níveis de escolaridade, nomeadamente a que possui apenas o ensino básico, apresenta uma forte vulnerabilidade social e económica que se espelha em todos os indicadores que compõem o risco de pobreza ou exclusão social. Efetivamente, quanto maior o nível de escolaridade, menor a proporção de pessoas em risco nos diferentes indicadores. Assim, 27.7% da população com ensino básico está em risco de pobreza ou exclusão social, comparativamente com 17.3% da população com ensino secundário e 6.8% da população com ensino superior.
·         A existência de um grau de incapacidade é outro elemento que reforça a vulnerabilidade da população, sendo ainda mais elevada quando nos referimos a uma população com incapacidade severa: 32.8% da população com incapacidade severa está em risco de pobreza ou exclusão social, 24.5% está em risco de pobreza; 25.6% vive em agregados com intensidade laboral muito reduzida e 12.2% está em privação material severa.
·         O risco de pobreza ou exclusão social é mais elevado junto da população com cidadania de um país terceiro (32.6%), tal como o risco de pobreza monetária, a intensidade laboral muito reduzida e a privação material severa. Note-se que há claramente uma distinção entre a população estrangeira extracomunitária e os estrangeiros provenientes de outros países da União Europeia. Este último grupo apresenta valores inferiores à média nacional e ao da população com nacionalidade portuguesa.
·         A população arrendatária é outro grupo com forte incidência de pobreza e exclusão social nas suas diferentes dimensões, existindo uma forte distância entre a população arrendatária com renda a preço reduzido ou gratuita e os proprietários com hipoteca ou crédito habitação. Enquanto 40.6% dos arrendatários com renda a preço reduzido estão em risco de pobreza ou exclusão social, junto dos proprietários com hipoteca esta proporção desce para 12.4%
·         Existe uma maior proporção de pobreza ou exclusão social nas áreas rurais (26.3%), assim como de pobreza monetária (22.5%) e de intensidade laboral muito reduzida (8.4%). No entanto, a pobreza urbana é também uma questão de grande importância. A maior parte da população em situação de vulnerabilidade social e económica encontra-se a residir nas áreas urbanas e é nesta tipologia de territórios que encontramos a maior taxa de privação material severa.
·         Os dados do ICOR 2018 apresentam pela primeira vez resultados desagregados por regiões. Torna-se visível a forte incidência de pobreza e de exclusão social, nas suas diferentes dimensões, nas regiões autónomas com resultados que se distanciam claramente dos valores existentes nas regiões no território continental. A Região Autónoma dos Açores apresenta os valores mais elevados em todos estes indicadores. Dentro do território continental é a Região Centro que apresenta a maior taxa de risco de pobreza ou exclusão social, mas com uma pequena distância face a outras regiões. A Área Metropolitana de Lisboa, com rendimento mediano claramente superior às restantes regiões apresenta a menor taxa de pobreza ou exclusão social e de pobreza monetária. No entanto, a análise do risco de pobreza monetária com base num limiar calculado nos rendimentos regionais apresenta uma realidade muito distinta: a Região Autónoma da Madeira é a região que apresenta a maior taxa de risco de pobreza; no território continental é a Área Metropolitana de Lisboa que possui a maior proporção de pessoas em risco de pobreza monetária.

Para consultar o documento na integra, por favor, aceda a:  https://on.eapn.pt/









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