Parecer da EAPN Portugal a respeito do Projeto de Lei apresentado a semana passada pelo Bloco de Esquerda
Projeto de Lei
Nº/XIII/4ª
Estabelece o
regime jurídico aplicável à avaliação de impacto dos
atos
Parecer da
EAPN Portugal
A Rede Europeia
Anti-Pobreza/Portugal (EAPN Portugal) congratula-se com o Projeto de Lei
Nº/XIII/4ª apresentado pelo Bloco de Esquerda sobre o estabelecimento de um
regime jurídico aplicável à avaliação de impacto dos atos normativos na
produção, manutenção, agravamento ou na diminuição e erradicação da pobreza. A
aplicação de mecanismos de poverty
proofing na construção de políticas públicas tem vindo a ser defendida pela
EAPN Portugal há vários anos. Ao longo dos últimos quatro anos, em particular,
a EAPN Portugal procurou mobilizar os atores institucionais, académicos e
políticos para a criação de uma Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, onde
a avaliação de impacto (ex-ante e ex-post)
das políticas públicas assume um papel central. O Manifesto Compromisso para uma Estratégia Nacional de Erradicação da
Pobreza[1],
juntamente os subsequentes encontros, eventos e reuniões, reflete essa demanda
por um consenso nacional sobre a importância do combate à pobreza e à exclusão
social enquanto prioridade nacional.
A
EAPN Portugal destaca as seguintes apreciações relativas
ao Projeto de Lei Nº/XIII/4ª:
·
É extremamente
positiva a apresentação de um Projeto de Lei que tem como objeto a criação de
mecanismos de poverty proofing que
avaliem de forma transversal os atos normativos da administração central e
regional, e os projetos e propostas de lei submetidos à Assembleia da
República. É essencial
que o combate à pobreza não esteja centrado em políticas públicas claramente
sectoriais, reduto de um Ministério ou uma área de intervenção específica. A
existência deste tipo de mecanismos de avaliação de impacto, pelo contrário,
vem sublinhar os potenciais impactos, diretos ou indiretos, dos atos normativos
independentemente do sector e área de intervenção - finanças públicas,
economia, transporte, ambiente, cultura, desporto, saúde, educação, justiça,
ação social –, permitindo efetivamente o mainstreaming
do combate à pobreza na política pública nacional.
·
A participação
dos cidadãos/ãs que enfrentam situações de pobreza e exclusão social na
definição, implementação e avaliação das políticas que lhes dizem respeito,
previsto no Artigo 5º, é um aspeto claramente positivo do Projeto de Lei e um
princípio de atuação que deve ser incorporado pelos diferentes atores
institucionais. A EAPN Portugal sublinha a importância de serem criados os
mecanismos de participação destes cidadãos, com estratégias e instrumentos
inclusivos que promovam efetivamente a participação.
·
A promoção de
ações de formação sobre avaliação de impacto sobre a pobreza por parte das
entidades abrangidas pela lei (Artigo 14º) é outro elemento positivo que a EAPN
Portugal ressalta.
A
EAPN Portugal considera importante que o processo de operacionalização da
avaliação de impacto dos atos normativos seja participado, nomeadamente através
da auscultação de académicos e de organizações da sociedade civil com trabalho
relevante na área do combate à pobreza. Nesse sentido, a EAPN Portugal
apresenta a sua disponibilidade e o seu interesse em contribuir para o reforço
dos mecanismos de avaliação de impacto dos atos normativos defendidos neste
Projeto de Lei.
[1]
Elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre a Estratégia Nacional para a Erradicação
da Pobreza. Este Grupo de Trabalho foi dinamizado pela EAPN Portugal e foi
composto pelas seguintes entidades/individualidades: Alcides Monteiro, Alfredo
Bruto da Costa, Ana Lopes, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local
(ANIMAR), Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (APDSI), Caritas Portuguesa, Carlos Farinha Rodrigues, Centro de
Estudos para a Intervenção Social (CESIS), Elza Chambel, Fátima Veiga, Fernanda
Rodrigues, Francisco Branco, Instituto de Apoio à Criança (IAC), José
Pereirinha, Maria Joaquina Madeira, Maria José Domingos, Maria Manuela Silva,
Paula Cruz, Pedro Hespanha, Sandra Araújo e Sérgio Aires.
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