Entrevista com Sandra Faria Araújo, diretora executiva da EAPN Portugal




















Trabalha há 23 anos na EAPN Portugal. É diretora executiva da organização. Ainda se lembra do primeiro dia de trabalho?
Sim, claro! Éramos cinco pessoas e hoje somos 35. Recordo que me deram um gabinete e em cima da secretária colocaram uma pilha de diversos documentos europeus para que os lesse. A primeira semana passei-a mergulhada em leituras, nomeadamente sobre políticas sociais e sobre os diversos organismos da União Europeia. Depois de ter assimilado essa informação, a pequena equipa da qual passei a fazer parte começou a desenhar o programa de atuação desta organização. Estou aqui praticamente desde a fundação.

A licenciatura em Serviço Social encerrava alguma ambição, em particular?
 Não. Tudo aconteceu muito naturalmente. Eu sou do tempo em que acabávamos o curso e começávamos logo a trabalhar. Não vivi o drama que muitos jovens vivem atualmente. Eu terminei o curso em julho e em setembro, já estava a trabalhar num projeto de luta contra a pobreza, no centro histórico, em Vila Nova de Gaia. Portanto, quando cheguei aqui, a minha pouca experiência de dois anos, enquanto assistente social, era o trabalho direto com as populações. Esse primeiro contacto com o mundo do trabalho teve muito a ver com aquilo que apendi e também com a minha vontade de mudar o mundo. E eu tinha essa convicção e sentia-me empoderada para o fazer. Mas com o passar do tempo, também nos vamos apercebendo das dificuldades de quem está no terreno e, até, das frustrações que isso nos pode trazer por não podermos dar as respostas tão rapidamente como gostaríamos. E isto dá-nos a tal maturidade que vai crescendo ao longo da vida. Entretanto, findos esses dois anos, vi um anúncio de jornal, para uma instituição europeia e, apesar da pouca informação que nos era fornecida, enviei o meu curriculum. Fui chamada para uma entrevista coletiva e, depois, para uma individual… e cá estou! Comecei por assumir a área da informação e formação e, dessa altura, guardo memórias bastantes positivas.

No que reporta a essas áreas, nomeadamente a informação, sentia que havia muito desconhecimento?
Completamente. A informação e a formação foram (e são) dois pilares importantes na estrutura desta organização. Naquela altura tínhamos acesso a informação privilegiada que depois partilhávamos com outras organizações. Atenção que, na altura, não tínhamos internet. Imagino que, para algumas pessoas mais jovens, seja difícil imaginar este cenário. Mas é verdade. Mesmo o volume de correio recebido era absolutamente incomparável ao de hoje. Quando recebíamos uma carta (de trabalho) batíamos palmas. Havia uma enorme panóplia de projetos e programas e nós tínhamos de reunir toda essa informação e sabê-la “na ponta da língua” para depois podermos informar bem outras organizações. Era também uma grande responsabilidade e exigia uma atualização permanente. Mais tarde, passamos a fazer um boletim quinzenal, Flash Rede, com toda a informação que colhíamos e traduzíamos para os nossos primeiros associados. As organizações procuravam-nos muito, nomeadamente autarquias, com o intuito de colherem informação para efetuarem candidaturas a projetos europeus e outras iniciativas. Fomos uma instituição pioneira nesta matéria.

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