Dia 15 de Novembro, na Universidade da Beira Interior
«À situação económica e financeira do país têm-se somado um conjunto de factores sociais que colocam os jovens contemporâneos numa situação de risco de exclusão e de pobreza nunca antes registada. Aqueles que, nos anos 60-70 constituíam os principais beneficiários do crescimento económico nos países ocidentais, tornam-se agora num dos grupos mais vulneráveis e mais expostos à exclusão social, com consequências que vão muito além da sua integração socioprofissional.
As últimas décadas têm sido marcadas por uma transformação profunda dos perfis da chamada transição para a vida adulta, crescentemente marcada pelo risco, pela incerteza e pela instabilidade, frequentemente designadas de “transições yo-yo”. Ainda que outros factores surjam associados a esta mudança, a integração no mercado de trabalho, a precariedade dos vínculos laborais e os baixos níveis salariais constituem um dos principais motivos desta alteração.
De acordo com o relatório da OCDE, cerca de um em cada cinco jovens portugueses encontra-se numa situação de desemprego (21,1%), muitos deles em situação de desemprego de longa duração. Refere o mesmo relatório que esta situação tende a manter-se pelo menos até 2014, o que certamente se reflectirá no aumento do desemprego de longa duração e na emigração. A somar a uma das taxas de desemprego juvenil mais altas da Europa (e possivelmente por isso mesmo), Portugal regista também uma das maiores desigualdades remuneratórias entre gerações, segundo um estudo recente do CIES-IUL.
A resposta a esta situação é frequentemente encontrada na emigração juvenil que, na actualidade, se revela bem mais complexa do que aquela que conhecemos nos anos 60. Contrariamente ao que acontecera naquela década, caracterizada por uma emigração de jovens maioritariamente desqualificados, assistimos actualmente a uma emigração mais heterogénea e crescentemente marcada pela chamada “fuga de cérebros”, cujas consequências para o desenvolvimento económico e tecnológico do país são ainda pouco conhecidas.
As consequências destas mudanças transcendem as realidades particulares destes jovens, afectando dimensões macrossociais e macroeconómicas, que vão da redução dos níveis de fertilidade e, logo, de natalidade (num país marcado pelo envelhecimento populacional), a uma redução significativa dos activos. O desequilíbrio e injustiça intergeracional entre beneficiários e contribuintes torna-se crescente, agravado ainda mais pelos baixos níveis salariais dos novos activos, cuja contribuição para os sistemas de segurança social decai proporcionalmente.
A presente comunicação pretende abordar não só as transformações recentes na condição juvenil perante o trabalho e o emprego, mas também as consequências a médio/longo prazo destas mudanças para a sustentabilidade do modelo de Estado Social e de desenvolvimento socioeconómico em Portugal, que em certa medida começa a revelar um círculo vicioso, que não só compromete a inclusão social dos jovens, mas que condiciona o apoio social a outros grupos.»
Nuno Miguel Augusto, Diretor do Curso de Sociologia da Universidade da Beira Interior
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