Abril - mês de prevenção dos maus-tratos na infância


História do Laço Azul
Em 1989 nos Estados Unidos da América, concretamente no Estado da Virgínia, surgiu o “ Movimento do Laço Azul”.

Este movimento foi criado por Bonnie W. Finney, depois de saber que os seus netos tinham sido vítimas de maus-tratos por parte dos pais. As crianças apresentavam nódoas negras pelo corpo. O neto acabou mesmo por ser assassinado pelos pais. Como maneira de lidar com a dor, atou um laço azul à antena do seu carro.

Escolheu esta cor com a finalidade de representar os corpos magoados e repletos de nódoas negras dos seus dois netos, tornando-se ao mesmo tempo um símbolo de alerta para a luta na protecção das crianças contra os maus-tratos.

O movimento ganhou relevância a nível mundial e enfatiza o efeito da preocupação que cada cidadão pode ter no despertar das consciências da população, em relação aos maus-tratos contra as crianças, na prevenção, promoção e protecção dos seus direitos.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), caracterizam-se como “abusos ou maus-tratos às crianças, todas as formas de lesão física ou psicológica, abuso sexual, negligência ou tratamento negligente, exploração comercial ou outro tipo de exploração, resultando em danos actuais ou potenciais para a saúde da criança, sua sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade num contexto de uma relação de responsabilidade, confiança ou poder”.

Os maus-tratos constituem-se como grandes problemas para o desenvolvimento das crianças, repercutindo-se mesmo ao longo da sua vida. Destaca-se a depressão, agressividade, abuso de drogas, problemas de saúde e infelicidade, anos depois de terem cessado os maus-tratos.

É inequívoco que todos os cidadãos devem contribuir para a prevenção de maus-tratos na infância/adolescência. É consensual que os diversos problemas que as populações enfrentam na actualidade - questões relacionadas com a pobreza, habitação, emprego, escola, cuidados de saúde e outros sistemas comunitários - são factores de risco.

Os maus-tratos físicos, psíquicos e sociais constituem um fenómeno que afecta a criança/jovem, por acção ou omissão das pessoas que têm de cuidar dela, daquelas com quem convive habitualmente e da comunidade em geral. Neste sentido, pode afirmar-se que o fenómeno da criança maltratada corresponde, em sentido lato, a um problema de saúde pública que consubstancia, regra geral, uma forma de “hereditariedade social”.

Para que os serviços de saúde se tornem mais efectivos nesta matéria, é essencial a melhoria da aplicação dos mecanismos de prevenção da ocorrência dos maus-tratos, da detecção precoce das situações de risco e de perigo, do acompanhamento e prestação de cuidados e da sinalização e/ou encaminhamento de casos para outros serviços, sempre que se justifique, no âmbito de uma eficiente articulação funcional.


OS MAUS-TRATOS PODEM APRESENTAR DIFERENTES FORMAS CLÍNICAS

Existe uma multiplicidade de situações que resultam na prática de maus-tratos, os quais podem apresentar diferentes formas clínicas, por vezes associadas:

 - Negligência;

 - Mau-trato físico, psicológico/emocional;

- Abuso sexual.

Negligência: Incapacidade de proporcionar à criança ou jovem a satisfação de necessidades básicas de higiene, alimentação, afeto, educação e saúde, indispensáveis para o crescimento e desenvolvimento adequados;

Mau-trato físico: Resulta de qualquer acção não acidental, isolada ou repetida, infligida por pais, cuidadores ou outros com responsabilidades face à criança ou jovem, a qual provoque ou possa vir a provocar, dano físico;

Mau-trato psicológico/emocional: Resulta da privação de um ambiente de segurança, de bem-estar afectivo indispensável ao crescimento, desenvolvimento e comportamento equilibrados da criança/jovem;

Abuso sexual: Corresponde ao envolvimento de uma criança ou adolescente em actividade cuja finalidade visa a satisfação sexual de um adulto ou outra pessoa mais velha.

De acordo com o Guia Prático de Abordagem, Diagnóstico e Intervenção – “Maus Tratos em Crianças e Jovens em Risco”; Direcção-Geral da Saúde, de Fevereiro de 2011, não é possível enumerar todas as situações de crianças e jovens em risco, nem estabelecer um programa único de actuação. Cabe à equipa de saúde, nomeadamente os enfermeiros especialistas em saúde infantil e pediátrica, identificar numa perspectiva centrada na família, as necessidades especiais de cada criança, sinalizá-las, proporcionar-lhes apoio continuado e promover a articulação entre os intervenientes nos cuidados.

O enfermeiro especialista em SIP, deve estar alerta em relação às famílias disfuncionais, pois um funcionamento familiar desadequado, por parte de um ou mais membros em coabitação com a criança e/ou jovem podem comprometer o seu bem-estar global. Neste sentido, deve-se definir um programa individual de vigilância e promoção da saúde que facilite o desenvolvimento de capacidades e potencialidades, que vise o bom desenvolvimento físico e psíquico da díade.

“A melhor forma de tratar o problema, é impedir que aconteça.” 
Paulo Sérgio Pinheiro, Perito Nações Unidas

Fonte: Ordem dos Enfermeiros

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