«A Pandemia pela voz das crianças» | Estudo apresenta resultados no próximo dia 10 de dezembro e deixa recomendações


  

«A Pandemia pela voz das crianças»

Estudo apresenta resultados no próximo dia 10 de dezembro

e deixa algumas recomendações

«A Pandemia pela voz das crianças» é o título de um estudo e também do  webinar que acontece já no próximo dia 10, visando dar a conhecer alguns resultados preliminares deste trabalho levado a cabo pela  #EAPNPortugal e o seu  #ONLCP (Observatório Nacional de Luta contra a Pobreza) e, ainda, pelo Centro de Investigação e Intervenção Educativa da FPCE. Para o efeito foram ouvidas mais de 200 crianças e abrangidos vários distritos de Portugal, incluindo as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.

A pandemia COVID-19 impactou de forma significativa a sociedade em geral, com diversas consequências, quer ao nível da saúde e do emprego, quer ao nível do isolamento social e das condições de vida da população. Ao contrário da população idosa, sempre posta muito em evidência, as crianças foram sendo relegadas para segundo plano e foram ficando “esquecidas” sob o argumento de que se encontram no seio das famílias que lhes promovem suporte e garantem condições de vida básicas. Ora, este estudo visa uma reflexão aprofundada, deixando algumas recomendações como, por exemplo, a criação de mecanismos de apoio psicológico às crianças e jovens no meio escolar não de uma forma formal/institucional, com espaços abertos, disponíveis e acessíveis a qualquer criança. «O suporte emocional pode também ser promovido entre pares; a partilha de experiências e de estratégias para lidar com determinadas situações pode e deve ser incentivada. A dimensão da saúde mental deve ser desde já acautelada e levar a cabo ações nas escolas que possam ajudar as crianças e os adolescentes a lidar com os sentimentos menos positivos que associam à pandemia. A tristeza, a apatia, as saudades muitas vezes relatadas devem ser verbalizadas, quer junto dos familiares, quer com os seus pares e com os professores. Esta abertura para expressar os seus sentimentos pode exigir estratégias próprias que tem que ser acionadas e que exigem sensibilização e mesmo formação por parte dos adultos responsáveis, quer sejam os pais quer os educadores», refere o documento.

O estudo diz, ainda, que do ponto de vista físico este grupo populacional está mais protegido, mas, na verdade, ao longo destes quase dois anos, o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social tem seguido um percurso totalmente distinto do que até então era defendido como fundamental para promover o “bom desenvolvimento” das crianças, sem se ter acesso ao nível de comprometimentos que esta situação gerou. «De uma forma muito específica, este grupo viu-se privado do convívio com pessoas e espaços de proximidade que funcionam como rede de segurança e vinculação e lhes permite a estabilidade para os desafios do “crescer” e, neste sentido, ao nível da saúde mental estaremos ainda por avaliar o impacto desta situação na vida das crianças de hoje», pode ler-se no estudo, que acrescenta :«sabemos que a “invisibilidade” das crianças foi prevalente e quando era referida esta faixa etária a relação direta era com as escolas, com o ensino à distância e as dificuldades de aprendizagem neste contexto atípico.

No documento defende-se, também, que «a vida de uma criança não se resume à escola, e a família e os amigos são dois universos fundamentais no crescimento harmonioso de uma criança. No contexto pandémico as crianças ficaram confinadas ao espaço da casa, da família, sem grande contacto com o exterior e sem a possibilidade de exercer atividades lúdicas, recreativas e artísticas. E se a família é à partida um local associado a proteção, segurança, partilha, sabemos que pode não o ser em todas as situações e essa invisibilidade que foi imposta pelo confinamento pode ter colocado muitas crianças em risco e perigo».

Assim, os efeitos da pandemia no bem-estar psicológico de crianças e adolescentes, em particular em idades mais precoces, exigem a realização de mais estudos de carácter qualitativo. «O presente estudo focou-se nas crianças e nas suas vivências, mas percebemos também que será importante em estudos futuros ouvir profissionais que interagem com as crianças, como os professores e técnicos de instituições e projetos, no sentido de perceber a sua perceção do impacto da pandemia nas crianças. O mesmo com as famílias», concluem as autoras.

Desde o início da pandemia que a EAPN Portugal procurou acompanhar esta realidade e perceber de que forma as crianças foram e são objeto de intervenção de forma a minimizar as consequências desta crise e, deste modo, ao longo de 2020 foram realizados diversos webinares sobre este tema nos quais tivemos oportunidade de ouvir organizações e peritos e mesmo a opinião de alguns jovens. Estes encontros, mesmo que virtuais, permitiram perceber e identificar alguns dos principais problemas que as crianças e jovens enfrentaram em 2020, e continuaram a enfrentar em 2021, nomeadamente, o agravamento de problemas de saúde mental, com a consequente utilização de medicação; o agravamento de problemas de saúde física decorrentes do sedentarismo; o agravamento de problemas de socialização decorrentes do isolamento e da quebra de laços familiares e com os seus pares; a dificuldade de garantir uma alimentação saudável e variada pela perda de rendimentos das famílias; a dificuldade na aprendizagem escolar; o maior risco de abuso sexual e de violência doméstica; o retrocesso nas aprendizagens de crianças com necessidade educativas especiais e crianças com deficiência; o isolamento das crianças institucionalizadas e o agravamento das situações de pobreza e exclusão social de crianças de etnia cigana.

Entre as recomendações deixadas pela equipa de investigação, refere que a participação é um princípio estratégico de planeamento e ação. «O estudo demonstrou uma vez mais como é importante promover momentos de auscultação e participação das crianças. Tendo em conta os impactos da pandemia seria importante criar momentos nas escolas, projetos, instituições de partilha de vivências da pandemia e sua superação tendo em vista também envolver as crianças e adolescentes na definição de atividades promotoras de bem-estar», concluem, a este respeito.

Assim convidamos todos os interessados a assistirem à apresentação do estudo qualitativo elaborado em parceria com o Centro de Investigação e Intervenção Educativa (CIIE) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCE) da Universidade do Porto, com vista a conhecer as perceções das crianças em idade escolar (dos 6 aos 12 anos de idade) face a esta situação atípica que atravessou toda a sociedade e que impactou todas as dimensões da vida das crianças (familiar, escolar, relacional, afetiva).

A apresentação do estudo "A Pandemia pela voz das Crianças" da autoria de Cátia Santos, Elizabeth Santos, Fátima Veiga, Paula Cruz e Teresa Dias, realiza-se online, na plataforma Zoom, no dia 10 de dezembro, às 10 horas. 

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Créditos da imagem: revista Gazeta.com


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