1 de Outubro - Dia Internacional da Pessoa Idosa
Estamos Aqui![1]
A
EAPN – Rede Europeia Anti Pobreza/Portugal (EAPN Portugal) celebra uma vez mais
o Dia Internacional da Pessoa Idosa.
O tema do envelhecimento e do papel das pessoas idosas na sociedade têm
assumido no trabalho da Organização uma centralidade não só do ponto de vista
nacional, mas também local. A mensagem deste ano da Organização pretende
traduzir e fortalecer a voz dos participantes dos Fóruns do Envelhecimento Ativo que foram realizados entre Fevereiro
e Julho de 2017 em 9 distritos do País: Beja, Braga, Bragança, Coimbra, Évora,
Faro, Guarda, Portalegre e Viseu. Um total de 32 fóruns, mais de 850
participantes, em torno de um tema central, a promoção de um Envelhecimento Positivo.
Envelhecer
de forma positiva significa envelhecer de forma saudável, ativa, com capacidade
de escolha e de aprendizagem, com sentido de utilidade, onde a construção de
projetos de vida continua a ser possível e onde a sociedade cria as condições
necessárias para a promoção do bem-estar psicossocial da pessoa. Na realidade
importa cada vez mais destacar o que tem de positivo envelhecer, já que todos
fazem esse percurso e querem que seja um percurso com qualidade de vida e
sobretudo dignidade.
A presente
Declaração pretende destacar algumas das mensagens das pessoas que participaram
nos Fóruns e pretende, sobretudo, alertar a sociedade em geral e as instâncias
de decisão política em particular para aqueles que são os interesses e desejos de
quem já se encontra nesta fase da vida e para o que é necessário para se
promover um envelhecimento positivo. Assistimos recentemente à apresentação da Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável
2017-2025 que a EAPN Portugal considera[2]
um avanço significativo para se produzir mudança na forma como se deve encarar
o processo de envelhecimento, respeitando as pessoas e promovendo a sua qualidade
de vida à medida que vão envelhecendo.
A aposta num envelhecimento positivo exige
uma mudança de Paradigma!
A saúde, a qualidade de vida, a adoção de hábitos
alimentares saudáveis e equilibrados,
e a capacidade de ter uma vida
independente surgem como centrais para um envelhecimento positivo. Há,
contudo, o entendimento junto das pessoas de que é fundamental assegurar certas
condições para que isso seja possível, desde logo, pode-se apontar como
prioritário o acesso a um rendimento
suficiente e adequado e o acesso a serviços
de qualidade, sobressaindo, neste último caso e em grande destaque, a
saúde, a habitação e a educação.
O estabelecimento de relações com outras
pessoas, não só as que habitam o espaço familiar, mas também as que se encontram
na comunidade e vizinhança, são considerados fundamentais. A este nível os jovens são destacados nomeadamente no
que se prende com a importância da solidariedade
intergeracional. Envelhecer bem é
envelhecer num contexto intergeracional
em que todas as gerações se respeitam e interagem.
A participação é igualmente destacada como
central. O sermos ouvidos e traduzir
essa auscultação num processo de participação efetiva, com impacto na definição
de políticas e medidas que visem uma melhoria na vida das pessoas idosas é
fundamental e estratégico para qualquer ação na área do envelhecimento.
Na defesa de
um envelhecimento positivo não podem ser esquecidas as instituições, mas a
referência a estas prendeu-se com a necessidade de ter cuidados personalizados e individualizados. A entrada numa instituição
não é colocada de parte, mas as instituições que são pensadas são abertas à comunidade e com uma
organização diferente que seja capaz de manter
as rotinas anteriormente existentes na vida das pessoas. De qualquer das
formas a possibilidade de envelhecer em
casa é a estratégia mais indicada e adequada para se ter um envelhecimento
positivo, mas para isso é necessário mudar
de Paradigma, ou seja, envelhecer em
casa, no contexto familiar e o apoio
que o Estado dá às instituições deve ser dado à família para cuidar dos seus
idosos.
Relativamente
ao que pode ser feito por si para se promover esse envelhecimento de qualidade,
é perentória a necessidade de ocupação,
não só para se combater a solidão,
mas também garantir satisfação pessoal.
O voluntariado surge em grande
destaque como uma estratégia a desenvolver, e a manter. O envolvimento social,
conscientes de qua a solidão mata e
que é preciso socializar de forma
intergeracional, surge como uma ação positiva para se construir redes de
contactos e apoio, combatendo o isolamento.
Apesar das
propostas apresentadas, é transversal nos vários fóruns a ideia de que para a
promoção do envelhecimento positivo, quer em termos pessoais, quer para os
outros encontra obstáculos na sociedade pela pressão dos estereótipos relativamente à idade e pela desigualdade, nomeadamente, a desigualdade
económica, que afeta muitos idosos e que não lhes permite aceder, em
igualdade, aos mesmos recursos e oportunidades. É compreensível que quando se
procura extrapolar uma resposta para a sociedade global, surge a necessidade de
promover primeiro uma atitude positiva
face ao envelhecimento, não só na própria sociedade – combate aos estereótipos da idade – mas nos próprios idosos de forma a incentivá-los para a participação e a cidadania ativa. O combate à
pobreza, como sempre defendemos é igualmente central neste processo uma vez que
a precariedade económica é incompatível
com o envelhecimento ativo e de qualidade.
Honestidade,
Dignidade, Igualdade, Respeito são valores e princípios centrais à promoção
de um Envelhecimento positivo.
Em termos globais parece haver um sentimento partilhado de que
“ser velho” é não ser aceite, ou ser olhado com todo um conjunto de ideias
negativas associadas. Verifica-se ao longo dos vários Fóruns uma concordância
relativamente ao facto do idoso e o envelhecimento serem percecionados de forma
muito negativa pela sociedade. Isso é visível dentro da própria família, com situações de maus-tratos, e seguimento
para uma futura institucionalização e mesmo na sociedade e instituições. A este
nível refere-se por exemplo que As pessoas não querem aturar os velhos. Preferem qualquer outro serviço
do que cuidar dos velhos.
Esta situação é ainda encarada de um ponto de vista mais amplo quando se refere
que se vive uma cultura do individualismo, da independência, do bem-estar
individual, onde o idoso é visto como empecilho e como não tendo lugar. As pessoas sentem (e manifestam) de que algo
precisa de mudar, por isso mesmo, valores como o Respeito, a Amizade
e o Amor ao próximo, a Igualdade, a Tolerância,
a Honestidade, a Aceitação, a Dignidade e
a Responsabilidade são centrais à promoção do envelhecimento
positivo.
Uma
vez que os valores precisam de se refletir nos comportamentos e atitudes das
pessoas, há que desenvolver cada vez mais ações de entreajuda entre as
pessoas, de partilha de experiências, promover a educação - A
educação mudou, mas precisa de continuar a evoluir para que o envelhecimento
possa ser aceite por todos como um processo natural – eliminar
preconceitos através da sensibilização pública, capacitar os jovens e
os profissionais pela formação de qualidade para a cidadania e os
afetos, mas também envolver mais os jovens na vida dos idosos através de
práticas intergeracionais. As atitudes das próprias pessoas idosas
também não devem ser esquecidas, sendo importante desenvolver uma atitude mais
pró-ativa na sociedade e mesmo a possibilidade de se constituírem grupos
de pressão para, junto dos governantes informar sobre o que faz
falta para que efetivamente as políticas mudem.
Em suma, é
importante reconhecer que muito tem sido feito, quer ao nível local, quer
nacional, para as pessoas idosas, mas como se pode verificar pelas mensagens
anteriores ainda é necessário fazer muito mais. Desde logo pode-se destacar
mais e melhor formação dos profissionais; promover espaços para a participação
e auscultação das pessoas idosas;
divulgar informação sobre serviços
disponíveis na sociedade e atividades desenvolvidas para as pessoas idosas;
melhorar o acesso aos serviços, com grande destaque para os serviços de saúde, mas também para a
rede de transportes locais; criar
condições para as pessoas poderem envelhecer
em casa, junto dos seus familiares e integrados na comunidade; flexibilizar
as estruturas existentes de apoio às pessoas idosas, nomeadamente, as
Estruturas Residenciais para Idosos (Lares)
de modo a garantir uma maior autonomia
e liberdade dos seus clientes; por
fim, e numa lógica mais global, são necessárias políticas que promovam um
envelhecimento de qualidade, com destaque às políticas sociais de proteção às pessoas, não só do ponto de
vista da garantia de um rendimento
mais adequado, mas também de promoção de condições
habitacionais mais condignas e também de incentivo à aprendizagem ao longo da vida.
«Os Fóruns do
Envelhecimento Ativo são um exemplo real de que a participação quando é
estimulada pode ser um importante mecanismo, não só de diagnóstico social, mas
também de mudança social. Há que criar condições para que seja continuada no
tempo, informada e estimulada de modo a que possa ser traduzida em ações
concretas na sociedade. O envelhecimento positivo também é isto, ou seja,
reconhecer as potencialidades e capacidades das pessoas para a promoção do seu
bem-estar psicossocial, mas também criar condições para que esse bem-estar seja
efetivo e em igualdade de circunstâncias.»
Não precisamos de uma solidão
acompanhada. Precisamos de projetos, atividades que nos ponham em ação, mais
dinâmicas, quer nos lares, quer na comunidade!
[1] As frases em itálico referem-se a mensagens expressas
pelos participantes nos Fóruns do Envelhecimento.
[2] Conheça a resposta da EAPN Portugal à Consulta Pública
da Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025: http://www.eapn.pt/documento/566/estrategia-nacional-para-o-envelhecimento-ativo-e-saudavel-2017-2025
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