Entrevista com Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal



Sofia Colares Alves
Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal

“Os líderes nacionais têm que dar provas aos seus cidadãos,
de forma clara e inequívoca, das vantagens do projeto europeu”

A sua voz, suave e convicta, tem o timbre da serenidade que a sua imagem transmite. No entanto, ativíssima, confiante e europeísta confessa, anda sempre numa roda-viva. Em julho deste ano, Sofia Colares Alves, assumiu a chefia da Representação da Comissão Europeia em Portugal e, como todos os chefes das representações da Comissão Juncker, foi nomeada pelo Presidente tornando-se sua "embaixadora", rosto e voz da Comissão Europeia em Portugal. Sofia Colares Alves nasceu em África há 45 anos e a sua vida profissional não a impediu de dar vida a outras vidas e de cuidar: é mãe do José (14 anos), da Inês (12) e da Alice (9). Depois de muitas voltas, está, novamente, em Portugal, mas a família é um claro exemplo do quanto é europeia: “lá em casa o ambiente é muito multicultural; falamos 4 línguas. O pai dos meus filhos é franco-alemão e quando decidimos fundar uma família anuímos que Bruxelas, para que nenhum de nós tivesse que sacrificar a sua carreira, seria o território mais “neutro” para vivermos”, disse à FOCUSSOCIAL. E assim é. Anda cá e lá, de sorriso nos lábios. Faz o que gosta e nunca se autolimitou. Aliás, entende que esse possa ser o segredo para gerir a sua vida tão ativa e desafiante. Ser “persistente, organizada, otimista e alegre” são características que encontra em si e que, às vezes, diz entre sorrisos, “exasperam a minha equipa. Porque mesmo estando a correr bem, acho que pode correr melhor”.
Sempre sentiu esse apelo do mundo, para transpor fronteiras e, de certa forma, os seus sonhos cedo lhe pediram mais asas. Viveu e estudou no Porto; viveu e estudou em Lisboa e, depois, voou para a Bruges, Bruxelas e Luxemburgo. Somou uma experiência de mais de vinte anos no domínio dos assuntos europeus e internacionais. “Advogada experiente, exerce funções na Comissão Europeia desde 2003, na área da política da concorrência. Começou por desempenhar funções na unidade Transportes da Direção-Geral «Concorrência», depois de ter trabalhado como referendária na secção do juiz Moura Ramos, no Tribunal de Primeira Instância das Comunidades Europeias, no Luxemburgo”. O seu vasto curriculum atesta o dinamismo e a responsabilidade com que encara os desafios que lhe são propostos. “Sempre trabalhei com muita pressão e comprometimento” mas também reconhece “a sorte de ter boas chefias” e nunca ter sentido “discriminação, por ser mulher. A igualdade de género é fortemente apoiada pela Comissão Europeia”.
Sob o lema uma “Europa que protege, capacita e defende” a Comissão já delineou a agenda para 2017 e Sofia Colares Alves reforça que “os países da UE precisam de se manter unidos no Conselho Europeu para definir uma agenda ambiciosa e eficiente para os próximos anos. Devemos cooperar mais e encontrar sinergias em áreas fundamentais para a vida das pessoas.” E acrescenta: “Há muita concordância entre as posições da Comissão e as do Governo português sobre matérias tão importantes como a necessidade de acelerar os mecanismos de proteção da segurança interna da Europa para salvaguardar o Espaço Schengen; também sobre a necessidade de a Europa investir mais na sua própria defesa. E não fica por aqui. Diz mais sobre esta e outras matérias. E diz também que gostaria de ouvir mais vezes a pergunta “Como é que podemos participar?”, na construção de uma Europa melhor, chamando, por exemplo, a atenção para as consultas públicas. No momento, uma em particular, sobre o Pilar Europeu dos Direitos Sociais.
Nas leituras recomenda-nos um romance de aprendizagem – A Arte da Alegria – título sugestivo que nos remete para a história dos primeiros cinquenta anos do século XX europeu, dos seus fervores políticos e não só. Diz-se inspirada pela “nossa Maria Helena Vieira da Silva” e, por sua vez, nós sentimo-nos induzidos a retirar do “Testamento”, escrito pela pintora, o “ponto final” para encerrar a nossa breve conversa. Como se a Europa fosse aquela velha amiga a quem desejamos, confiantes mas compreensivelmente receosos, todas as cores! Nomeadamente “Um azul cobalto para a felicidade”; “Um verde veronese para a memória” (…); Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade e “ Um laranja para exercitar a visão (…)”.

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