«Em termos de contextualização geral, verificamos que as primeiras referências sobre a presença de ciganos em Portugal datam do Século XV. Actualmente, e apesar do enorme grau de incerteza e de imprecisão, os números oscilam entre os 30 000 e os 90 000 ciganos portugueses (segundo a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância são entre 50 000 e 60 000) .
Apenas para termos uma noção das imprecisões, a organização SOS Racismo, através de um Inquérito realizado junto das Câmaras Municipais e de outras entidades (2001), apenas conseguiu apurar um número total de 21 831 . O mesmo estudo conclui que as Comunidades Ciganas estão especialmente concentradas no litoral e nas zonas fronteiriças, com especial concentração em Lisboa, concluindo que 31% dos ciganos vivem em situação precária, especialmente nos distritos de Viana do Castelo, Castelo Branco, Coimbra e Évora.
Um outro estudo mais recente , realizado pelo Centro de Estudos Territoriais (CET) indica-nos que existem, aproximadamente, 34 000 ciganos em Portugal continental. Relativamente à distribuição das Comunidades Ciganas por Distrito, verifica-se uma maior concentração no distrito de Setúbal (5 895), seguidos do distrito de Lisboa (2 854), Porto (2 665), Faro (2 647), Santarém (2 245), Braga (2 191) e Portalegre (2 089).
No entanto, todas as estatísticas produzidas e sistematizadas, só podem ser encaradas como meras aproximações à realidade. Uma das principais dificuldades em obter dados mais fiáveis, prende-se com o facto de, à luz da Constituição da República Portuguesa (art.º 13, n.º 2 – Principio da não discriminação ), não ser possível discriminar nenhum cidadão português, o que inviabiliza a obtenção e tratamento de “dados étnicos” e, no caso da Comunidades Ciganas, uma evidente aproximação mais fidedigna à realidade .
Esta ausência de dados concretos tem óbvias repercussões no momento em que se procura definir uma amostra representativa. Na realidade, nem ao nível dos indicadores censitários mais básicos (género, idade, distribuição territorial) é possível obter dados suficientemente fiáveis para representar o universo geral das Comunidades Ciganas em Portugal».
Maria José Vicente in As Comunidades Ciganas e a Saúde: um primeiro retrato nacional, EAPN Portugal, 2009
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