Trabalho
Digno e a agenda 2030 para o Desenvolvimento sustentável em debate, amanhã, no
Porto
«Precisamos
passar à fase do “desenvolvimento”, da distribuição mais equitativa da riqueza
e da promoção da justiça social»
Maria Helena André, diretora do Bureau for
Workers Activities da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma das
principais oradoras presentes, amanhã, num dos auditórios da Atmosfera M, no
Porto, no seminário que irá abordar o “Trabalho Digno e a agenda 2030 para o
Desenvolvimento sustentável”, onde estará também a diretora da OIT em Portugal,
Mafalda Troncho. A iniciativa insere-se nos 100 anos da fundação da OIT que há
quase duas décadas apresentou a Agenda para o Trabalho Digno, que tem sido
assumida como uma estratégia de desenvolvimento universal e que acompanha o
modo como atualmente as sociedades se veem confrontadas com desafios de crescimento
económico sustentável e inclusivo. Por
outro lado, o Trabalho Digno é uma questão igualmente fundamental para a EAPN
Portugal, organizadora deste encontro e que já tinha reforçado o tema no
passado dia 17 de outubro, num fórum que aconteceu na Foz do Arelho e reuniu
alguns especialistas em torno da promoção do trabalho digno, questão
fundamental no combate à pobreza e à exclusão social, uma vez que a
dignificação do trabalho é um fator fundamental nos esforços de redução dos
números da pobreza e na promoção de sociedades onde o desenvolvimento seja mais
equitativo, inclusivo e sustentável.
Outro dos temas a refletir é a Agenda 2030 para
o Desenvolvimento Sustentável, que no seu primeiro ponto define a erradicação
da pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares. Tendo em conta que
esta Agenda concilia as três dimensões do desenvolvimento sustentável (
economia, sociedade e o ambiente) “tanto
para nós como par a OIT a adoção da Agenda 2030 é um importante desafio para os
próximos 15 anos que serão absolutamente decisivos para a persecução deste
grande objetivo”, diz padre Jardim Moreira, presidente da EAPN Portugal,
remetendo as questões mais focadas na realidade nacional, tais como a situação
em Portugal dos trabalhadores pobres, a precariedade dos jovens e a evolução do
mercado de trabalho no Portugal pós-crise. “Numa época em que os sinais de
recuperação económica se começam a fazer sentir no nosso país, em que as taxas
de desemprego têm vindo a diminuir substancialmente e gradualmente, em que parece
emergir uma nova aposta na confiança dos investidores, a questão da
dignificação do trabalho surge como uma questão fundamental. Não basta haver
trabalho, é necessário que este permita elevar o nível de vida das pessoas, e
sobretudo que permita que, os trabalhadores pobres, vejam a sua condição
dignificada, por salários e condições de trabalho, que lhes permita levar uma
vida digna. Não basta que o país cresça, que o desemprego diminua, é necessário
que esta situação de crescimento económico sirva para elevar as condições de
vida daqueles que apesar de trabalharem se encontram em situação de pobreza, e
que possam beneficiar desta situação económica de crescimento. Ou seja,
passarmos para a fase do “desenvolvimento”, da distribuição mais equitativa da riqueza
e da promoção da justiça social”, defende o presidente daquela ONG.
Para o debate que terá lugar amanhã, serão
lançados os seguintes dados: em 2016, Portugal tinha 23,3%, quase um quarto dos
seus trabalhadores a auferir o salário mínimo nacional que era, à data, de 530€
mensais, em abril de 2017, o valor total ascende a 25,7% dos trabalhadores por
conta de outrem a tempo completo; segundo os dados do ICOR 2017, 4% da
população integrada no mercado de trabalho não consegue fazer face às despesas
associadas a quatro ou mais itens de um conjunto de nove considerados
fundamentais a uma vida digna; entre a população empregada por conta de outrem,
o risco de pobreza e exclusão social é de 10,5%. Todavia, entre a população
empregada por conta própria – ou seja, trabalhadores independentes e
autoempregados, isolados ou com trabalhadores, é de 33,1%, tendo atingido os
35,6%, em 2013, valor mais alto da série disponível para esta categoria
(2009-2017). Alguns dados que dizem muito sobre o que ainda falta fazer.
Ainda sobre as questões do trabalho e da
proteção social, a EAPN Portugal tem uma posição muito clara, expressa desde
2013, num documento intitulado: “Qualidade
do emprego e do trabalho na União Europeia”, cujas ideias gerais voltarão a
estar no debate de amanhã, no Porto.
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